terça-feira, dezembro 16, 2008

A Caravana do Chapéu


Eu estava olhando as novidades na Livraria Saraiva, quando me deparei com uma revista que estampava na capa a foto do recém –eleito George Bush com o título “ O Brasil que assusta Bush”. Comprei a revista, mas confesso que à época minha intenção era de ler matérias em oposição ao governo americano e aos Estados Unidos em geral. Por isso, naquele momento a revista e a matéria não corresponderam às minhas expectativas.

Corta para 2005, em meio à crise do mensalão do governo Lula, quando novamente me deparo com dois exemplares da Revista, lembro de um com a capa preta, intitulado: “Comando de Caça dos Direitistas”. Nesta época, minhas opiniões já haviam mudado radicalmente desde a primeira vez em que li a revista. Foi então que li o artigo HH (que significava Heloísa Helena). Nunca havia lido algo tão contundente, uma crítica tão aberta e honesta, sem rodeios, direta. Quando o articulista fez a analogia entre Heloísa Helena e Jair Bolsonaro (capitão do exército na época do regime militar, famoso pelas frases e pensamentos, digamos,). Heloísa Helena é o Jair Bolsonaro das esquerdas, enquanto este é tratado, merecidamente, como delinqüente moral e político, aquela se tem como pensadora independente. Sensacional. Amor não à primeira, mas à segunda vista. Quem era este tal de Reinaldo Azevedo que não tinha receio e escrever daquela forma? A partir daquele dia, acessar diariamente o dite Primeira Leitura tornou-se tão comum quanto tomar o café da manhã. Claro, existia o site Mídia sem máscara, mas não era a mesma coisa.

Quando as coisas pareciam enfim pareciam encaixadas, num belo dia, sem qualquer aviso prévio o próprio Reinaldo e Rui Nogueira, editores da revista, anunciavam seu fechamento. E agora, pensava. Como ficar sem a leitura diária da Primeira Leitura? Felizmente meus temores logo abrandaram, pois Reinaldo Azevedo passou a escrever em um blog próprio, este mesmo que hoje está hospedado na home-page da revista Veja.

Agora sim, tudo estava resolvido, com o blog diário Reinaldão escrevia mais do que antes, suas idéias extrapolaram o pensamento político, entrando também no campo da cultura, religião, sociologia, atualidades, etc. Neste meio tempo, Reinaldo precisou fazer uma delicada cirurgia para a retirada de dois tumores (benignos, felizmente). Como diria aquela piada do Joseph CLimberly , qualquer um ficaria chateado, desmotivado, mas não Tio Rei, que tratou do assunto com a maior naturalidade e descrição possível, sem apelações e sentimentalismos.

A partir deste momento, Reinaldo Azevedo passou a utilizar chapéus, estilo Panamá, mas que na verdade são produzidos no Equador como parte da sua indumentária. O chapéu tornou-se, sem querer, sua marca registrada, para o bem e para o mal. Chapeleiro maluco, dizem os detratores, Tio Rei aqueles que, mesmo não concordando com tudo o que escreve, reconhecem sua eloqüência e independência de pensamento. E que texto!!!! Como escreve bem nosso Reinaldo!! Por isso, tenho que tomar cuidado, ou acabo concordando com tudo o que ele escreve, ao invés dos 75% de concordância que temos atualmente. Reinaldo Azevedo não pede concordância, mas não foge de um conflito. Pelo contrário, muitas vezes cutuca o adversário.

Faltava algum catalisador deste movimento, algo que materializasse o sentimento daqueles que acompanham Reinaldo desde remotos tempos. E veio o livro, País dos petralhas, uma pequena síntese do que Reinaldo escreveu no blog nestes últimos anos.As sessões de autógrafos do livro passaram a ser conhecida como a Caravana do chapéu. Concorridas sessões onde o escritor apresenta umas palestras iniciais, seguidas de perguntas dos participantes e posterior sessão de autógrafos.

Este que vos escreve participou no último dia 09/12 da caravana do chapéu na Livraria Cultura. Reinaldo Azevedo estava lá. O já conhecido excelente escritor mostrou-se também excelente orador, com presença de palco. E creiam, a caravana do chapéu, dentro de suas possibilidades, é extensa. Pessoas inteligentes, que não se pautam por chavões, ideologias, mas sim por pensamentos independentes, individuais. Reinaldo Azevedo já deu-se conta deste fenômeno. A caravana aumenta a cada dia, uma onda deste pensamento contestador, que recusa-se a pautar-se pelo senso comum, atrai um número cada vez maior de adeptos.

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