sexta-feira, outubro 09, 2009

RIo 2016 - O nacionalismo bocó a serviço dos espertos



Putz, fiquei escrevendo tomando uma Polar e deu nisso, ficou um pouco extenso mas acho que vale a pena.


O Rio de Janeiro foi escolhido pelo Comitê Olímpico Internacional para sediar as Olimpíadas em 2016, em uma votação na cidade de Copenhage, na Dinamarca, que envolveu emocionalmente grande parcela da população brasileira. Feita a escolha, a população se dividia em opiniões favoráveis e contra a realização do evento.


Verdade seja dita, se apenas critérios técnicos fossem utilizados, a cidade de Tóquio deveria ser a vencedora, pois era a única cidade que já possuia o investimento necessário disponível para a realização dos jogos, ficando desta forma o Comitê Olímpico Internacional responsável por um desembolso muito menor do que as outras cidades candidatas.


Eu concordo que a escolha de uma sede olímpica não deva obedecer somente a critérios técnicos, pois uma olimpíada é antes de tudo um evento evenvolvendo nações de todo o mundo, e logicamente questões políticas tem um peso relevante nesta questão. Ou se a cidade escolhida posse Poyang, capital do Córéia do Norte, o que você acharia? Complicado, né?


O problema é que a escolha da cidade do Rio, a meu ver, obedeceu a critérios estritamente políticos, onde nesta escolha o COI adotou a postura semelhante a FIFA em realizar um "rodízio" de continentes para a competição. O que deveria talvez ser um critério de desempate virou quesito principal no voto dos delegados do COI.


E o critério político fica mais evidente com o envolvimento pessoal do governo nesta empreitada, principalmente do presidente Lula, que espertamente capitalizou o evento em causa própria. Obama, pressionado, resolveu fazer o mesmo, mas sem a mesma determinação que o presidente brasileiro e acabou saindo chamuscado na fogueira.


E como a política é quem deu as cartas em todo o processo, quem fosse contra a candidatura brasileira era tachado de "direitista" , "reacionário" ou contra o Brasil. Lamentavelmente, esta postura escontra perigosa verosimilhança com a mensagem da Ditadura militar no Brasil nos anos 60 e 70, com o famoso bordão "Brasil, ame-o ou deixe-o" ou ainda "Eu te amo meu Brasil, eu te amo, ninguém segura a juventude do Brasil". Pois é, hoje me deparo com frases como " o melhor do Brasil é o brasileiro...". Perguntem aos alemães o que o ultra-nacionalismo fez por eles, e talves deixemos de lado estas bobagens.


Tá, eu sei, a economia do Brasil está crescendo, o páis precisa formalizar sua postura de player global e atuante as reservas no exterior, etc, etc... Mas vamos deixar o nacionalismo buro e bocó de lado e vamos tentar racionalizar só um pouquinho?


Vamos por partes. O crescimento e amadurecimento da economia brasileira é fato real e indiscutível. Agradecemos, pois, aos chineses que hoje compram tudo o que produzimos, gerando este grande superávit na balança de pagamentos. Mas vejam só que coisa, a economia é dinâmica, correto? Quem garante que as condições do presente se manterão por tanto tempo assim? Não estou querendo jogar areia, mas só tentando mostrar que uma posição vantajosa no PIB pode ser meramente ocasional ou passageira. Desafio alguém a dizer qual a posição da China no mercado mundal há 10, 15 anos atràs? Pois é...


E se hoje temos reservas no exterior, superavit primário, vamos fazer o que com este dinheiro? Escolas? Hospitais? Investimento em educação? Nada disso!!!! Vamos nos comportar como novos ricos querendo chamar a atenção e ser bem aceitos no clube, torrando tudo em festa. Onde está o Ministério do Planejamento numa horas dessas? Alguém já se perguntou quanto custou/custará a organização em curto espaço de tempo de um Pan americano, uma copa do mundo e uma edição de jogos olímpicos???


O Pan americano havia sido orçado inicialmente em 400 milhões. No final, o custo total foi de 5 bilhões!!! Como? Deixando tudo para o último ano, assim se dispensam licitações ou as fazem nas coxas, gastando o triplo e fazendo o TCU de bobo.Nofinal a diferença entre o roçado e o realizado é de DOZE VEZES!!!! DOZE!!!! E ninguém veio a público dar alguma explicação!!!!


Mas claro, o importante é ir à praia de Copacabana em plena Sexta-Feira (foi ponto facultativo na cidade, será que em Madrid, Chigago ou Tóquio também foi??), festejar, suar e beber cerveja e cantar as maravilhas do Rio. E, diferentemente de uma copa do mundo que será realizado em 12 cidades, os jogos olímpicos são realizados em apenas uma cidade. Desta forma, o efeito multiplicadorda economia estaria restrito basicamente à cidade do Rio de Janeiro.


E não digam que sou somente do contra. Na eleição de Obama, apesar de ter uma pulga atrás da orelha, pensei que a política realmente necessitasse de renovação, de envolvimento e paixão popular, ingredientes às vezes esquecidos mas vitais ao processo político. Nesta mesma linha de raciocínio, talvez não seja a hora de um maor envolvimento popular nas questões envlvendo dinheiro público? Não terá chegado a hora de uma cobrança incisiva e coerente nas autoridades responsáveis pelo investimento e pela fiscalização do uso de investimentos públicos (porque podem esquecer o privado, no final pagaremos por tudo). Ou vamos deixar o clima de oba oba e nacioalismo bocó e retardado tomar conta de nossa mente e corações? Vejam só Eike Batista, grande empresário bem sucedido, chegou a emprestar jatinhos aos governantes para que estes se deslocassem com maior mobilidade neste período. Não sejamos ingênuos em achar que foi em ato de sublime caridade.


No blog do Gravataí Merengue http://www.interney.net/blogs/gravataimerengue/, o mesmo faz um interessante paralelo entre o estudo do IPEA em diversos jogos olímpicos, que resumo a seguir:




Barcelona:

Os Jogos de Barcelona são vistos como um exemplo de sucesso, cujo legado permitiu à cidade superar a estagnação da década de 1980. "A maioria dos investimentos foi feita na própria infra-estrutura urbana (por exemplo, no trânsito de veículos), deixando para a população da cidade um legado muito maior do que o esportivo. E a avaliação da população refletiu essa aprovação: o aumento da auto-estima e a satisfação dos cidadãos, por causa das melhorias realizadas em virtude da Olimpíada".


Sydney:

Nos Jogos de Sydney a questão ambiental ganhou importância. "Ações como a despoluição da Homebush Bay, colocando-a como o centro dos Jogos Olímpicos, bem como a implantação de técnicas de reaproveitamento de água, energia e lixo e a preocupação com o desenvolvimento sustentável transmitiram a idéia que o mundo precisava. A partir disso, a preocupação com o meio ambiente passou a ser uma exigência do COI".



Pequim:

Já os Jogos de Pequim são destacados como uma forma de apresentar o que a China é capaz de oferecer ao mundo. Ao falar sobre os benefícios que a realização dos Jogos traz para a capital chinesa, o texto prevê que "o crescimento econômico chinês vai continuar dando suporte para o crescimento econômico de Beijing e a estrutura adquirida pela realização do evento, especialmente em tecnologia da informação, sistema bancário e setor de serviços, continuará dando frutos".


Atenas:

Mas nem sempre a realização deste evento tem os resultados esperados. Os autores citam o exemplo de Atenas, cidade-sede no ano de 2004. Devido à grande preocupação com o terrorismo, os gastos com segurança aumentaram bastante, enquanto diminuíram as receitas com turismo. "Nesse caso, pode-se incluir no legado uma grande dívida, indesejada, que precisou ser assumida pelo governo grego. E, para agravar, houve denúncias de uso indevido dos recursos públicos".


Perguntas simples: qual dos quatro casos mais se encaixa ao do Rio de Janeiro? Economia e investimentos em transportes, como na Espanha? Preocupação ecológica australiana? Controle rígido das despesas e alta tecnologia chinesa? Ou alto gasto em segurança pública e corrupção, como na Grécia?



Então, em qual deles na sua opinião as Olimpíadas do Ri de Janeiro se encaixarão melhor?