As grandes corporações começam a vivenciar o início de uma nova fase no seu
ambiente de negócios, e, por que não dizer, uma nova fase do capitalismo
mundial. Nesta nova fase, em que grandes corporações concorrem diretamente por
um crescente mas ainda reduzido números de consumidores, tendo a concorrência
como um definidor de extrema importância para garantir a longo prazo a
solvência das empresas. Neste ambiente de acirrada competição, é saudável
percebermos o surgimento de um consumidor cada vez mais exigente, consciente e
até engajado. Tal comportamento assumido por este consumidor era previsto na
medida em que o sistema capitalista solidifica suas bases e sua natureza
competitiva, e acaba por influenciar de maneira decisiva nas estratégias
empresariais de qualquer organização.
Essa mudança comportamental por parte do consumidor tem refletido
diretamente na atitude das empresas. Exemplos como a Nike, constantemente alvo
de reclamações pela utilização de mão-de-obra escrava e muitas vezes infantil
nas empresas terceirizadas de sua linha de produção, principalmente em países
asiáticos. Tais procedimentos empresariais não condiziam com a imagem
publicitária que a empresa buscava transmitir, causando grandes estragos em sua
imagem. Em 2005, a empresa passou a identificar em seu balanço social todos os
seus fornecedores, procurando desta forma dar maior transparência de suas ações
com a sociedade, evitando, logicamente, aquelas empresas que utilizariam
mão-de-obra infantil ou escrava em seus trabalhos. Tal procedimento ajudou a
resolver parcialmente o problema, visto que a baixa remuneração dos
trabalhadores nestas fábricas ainda persiste, e os custos com a melhoria de
fornecedores foram automaticamente repassados aos produtos.
A General Motors, vislumbrando a nova tendência do “ecologicamente correto”,
passou a utilizar tecnologias “limpas”( verdes) para reduzir o efeito estufa,
dentro de um programa chamado Ecomagination, que obteve investimentos
superiores a 1,5 bilhões de dólares. Como diz o vice-presidente mundial de GE:
“Green is green”, ( verde é verde), numa alusão ao verde ecológico e o verde
das notas americanas.
A Unilever na Índia recentemente lançou uma nova versão de uma marca de
xampu, voltado para a classe de baixa renda. Tal projeto foi um sucesso
absoluto, e vem de encontro aos ensinamentos do mais importante guru dos negócios
modernos desde a morte de Peter Drucker, C.K. Prahalad, criador da corrente que
utiliza a base da pirâmide ( classes baixas) como forma de crescimento e
distribuição de seus produtos. Nada do que as Casas Bahia já não utilizem há
décadas. O novo deste formato talvez seja a utilização do conceito de que
permitir o acesso destes novos consumidores a produtos até então restritos a
classe média constitui-se em uma inédita inclusão social por parte destas
empresas, fornecendo a estes consumidores mais do que os benefícios do produto,
mas também dignidade. Algo como um novo capitalismo inclusivo.
A rede varejista Wal-Mart, controladora no RS da marca BIG e Nacional;
também entrou nesta nova tendência do mercado. Em uma de suas ações, anunciou a
intenção de reduzir a emissão dos gases que causam o efeito estufa em até 20%,
bem como a intenção de seguir uma linha de padrões sócio-ambientais, processo
estendido aos seus fornecedores. A melhoria dos planos de saúde de seus
funcionários também foram alvo de ações, visto que a empresa é constantemente
criticado pelas más condições de trabalho de seus funcionários.
A rede de lanchonetes MC Donalds, que era alvo freqüente de “denúncias” por
razão de seu cardápio ultra calórico, passou a adotar uma postura de livre escolha
em suas lanchonetes, onde já é possível encontrar produtos como sucos naturais,
frutas e saladas em seu cardápio.
Portanto, as organizações que terão mais chances de sobreviverem a este novo
ambiente de negócios serão aquelas que, além de produzir ou executar produtos
ou serviços de qualidade a preços que o mercado esteja disposto a pagar, o
fizerem respeitando os direitos individuais do ser humano, sem ferir normas de
conduta consideradas a aceitas como ética e responsáveis. Apesar destas
atitudes serem vistas com reservas por seus críticos, como ONGS e acadêmicos,
que reivindicam uma postura mais incisiva por parte das empresas nestas
questões, colocando em dúvida o real comprometimento destas, no receio de que
estes projetos sejam abandonados na primeira crise financeira por qual passem
estas empresas.
Fica a questão. Estas práticas vieram para ficar ou serão apenas mais um modismo?
Obs: Análise efetuada a partir do texto "Guinadas Estratégicas"