domingo, dezembro 17, 2006

A Cidade Perdida


Você conhece ou já ouviu falar a respeito do filme A Cidade perdida, dirigido e estrelado por Andy Garcia? Não? Nenhuma divulgação na mídia? Mas com certeza você conhece e já leu a respeito do filme Diários da Motocicleta, do brasileiro Valter Sales, não é mesmo? A mídia especializada não absteve-se de insuflar de elogios a saga do médico argentino Che Guevara e suas experiências na viagem realizada na América do Sul, onde foi possível constatar seu ato heróico e seu desprendimento, chegando ao ponto de atravessar a nado um rio para ficar junto de algumas pessoas que sofriam de lepra. Ao final da exibição, tinha-se a imagem de um Che Guevara meigo e sensível com as causas humanitárias e sociais. Um exemplo de cidadão latino-americano.

Podemos citar outros filmes. A lista é interminável. Quantas pessoas não saíram satisfeitas com as críticas ao American Life de Beleza Americana? Ou os filmes críticos de Oliver Stone ou Spike Lee? A última polêmica cinematográfica está em torno do filme Turistas, uma película de extremo mau gosto filmada por cineastas americanos do segundo escalão no Brasil, onde jovens turistas americanos sofrem na mão dos habitantes locais, tais como assaltos, tráfico de órgãos, etc. Tudo regado a muita caipirinha. Não tardaram em circular pela internet diversos protestos com o intuito de boicotar a exibição do filme no Brasil.

A mesma publicidade não é dada ao filme de Andy Garcia, que sofreu e ainda sofre um boicote silencioso por parte da mídia, artistas e intelectuais. Segundo palavras do próprio Andy Garcia, ‘‘As pessoas não querem ver a imagem de Che Guevara arranhada. O consideram um salvador, o que é uma bobagem. Mas, como ele ainda tem muitos defensores ao redor do mundo, isso vai continuar a acontecer’’.

O drama político filmado por Andy Garcia foi pago do seu próprio bolso e conta a história de uma tradicional família cubana no ano de 1958, ás vésperas da revolução cubana liberada por Fidel Castro e Che Guevara. O filme é de uma transparência ímpar, por isso mesmo furtou-se de “maquiar” qualquer personagem histórico que o filme faz referência. O ditador Fulgêncio Batista é mostrado como um ditador megalomaníaco. Che Guevara também é mostrado como um revolucionário frio e calculista, muito longe do idealizado por Valter Sales. O filme tem diversos momentos marcantes, destacacam-se por exemplo cenas em que o clube noturno dirigido por Fico ( Andy Garcia) sofre uma intervenção do Sindicato dos Músicos, onde o mesmo proíbe o uso do saxofone, por tratar-se de um instrumento de imperialistas, mesmo o dono do cabaré lembrando que o instrumento fora inventado na Bélgica. Há ainda a cena em que um proprietário de terras recebe a visita do sobrinho e lhe relata sua intenção de deixar suas terras de herança ao sobrinho e irmãos quando de sua morte, quando o mesmo lhe comunica que as terras serão desapropriadas pela revolução. A execução sumária de opositores do regime Fidelista, sem qualquer possibilidade de julgamento é ato freqüente no filme, contribuindo para desmistificar certos mitos.

O filme é um convite à reflexão. Podemos perceber e nos surpreender como a burrice da ideologia coletiva pode levar ao desmoronamento de um país e todas as suas instituições, inclusive e principalmente a familiar. E se o objetivo dos revolucionários era a instalação de um governo democrático, quarenta e cinco anos depois podemos afirmar que tal propósito não foi alcançado. Trocou-se de ditador, mas a tirania continuou. A última coisa que existe em Cuba é democracia. O país tem apenas um jornal, de “opinião” governista, apenas uma rede de televisão, também na mesma linha do jornal. Não há oposição, inexiste liberdade de expressão, muitos opositores foram fuzilados, outros milhares refugiaram-se no exterior, como é o caso de Andy Garcia e do escritor Guilhermo Cabrera Infante, autor deste roteiro. Cuba sobreviveu durante anos graças à esmola soviética, mas com o fim do Socialismo soviético o país é uma ilha isolada do mundo, onde falta tudo, de comida à roupas. Por incrível que possa parecer, esta ditadura tem defensores em todo o mundo, muitos no Brasil, como Chico Buarque, Luis Fernando Veríssimo, só para citar alguns.
Cuba hoje vive na expectativa do fim do regime ditatorial de Fidel Castro. Se Che Guevara morreu cedo e talvez por isso se explique em parte o fascínio que exerça em algumas mentes desavisadas, o mesmo não pode-se afirmar de Fidel, que instituiu em Cuba uma ditadura sanguinária e cruel, e a exemplo de Pinochet, aguarda a derrocada de seu regime totalitário ao final da sua vida

Pinochet e Friedman - Favor não misturar



Pinochet e Milton Friedman. Esta mistura não tem como dar certo. A morte destas duas personalidades históricas fez com que algumas pessoas ligadas à esquerda ligassem os dois nomes. Vamos com calma. Não se misturam água e óleo. Pinochet foi um ditador assassino. Seu regime matou em torno de 3000 chilenos. Não gosto e não creio ditaduras. Sou pois, um democrata. Não preciso e não sou como certos esquerdistas que procuram encontrar subterfúgios para defender a ditadura de Fidel Castro. O que o Chile representa hoje em termos de economia e liberdade seria plenamente alcançável sem Pinochet.

Se há uma pessoa que mereça este mérito, esta pessoa seria Milton Friedman, um dos maiores e mais influentes, se não o maior, pensador econômico contemporâneo. Suas idéias serviram de base para as reformas de Margaret Thatcher, que por sua vez utilizou o Chile como uma espécie de laboratório. Milton Friedman com suas idéias liberais, defensor da iniciativa privada, onde condenou governos deficitários ao afirmar que ninguém gasta o dinheiro de outra pessoa como gasta o seu, contribuiu de forma marcante e decisiva para solidificar as bases do Liberalismo Econômico. Tornou conhecido também a Escola de Chicago, desiginação para os economistas desta universidade e que foram influenciados por suas ideais.

Para o Brasil, ainda nos falta muito para compreendermos a importância que Milton Friedman teve como pensador econômico, político e social. Mas não nos confundam, ou pelo menos não confundam este blog. Estamos mais para Milton Friedman do que para Pinochet. Parafraseando Reinaldo Azevedo, podemos viver sem um ditador para chamar de nosso. E a esquerda, pode?